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Repelente caseiro com cravo-da-índia, álcool e óleo corporal não tem eficácia contra a dengue.

Ítalo Rômany, Lupa

Circula nas redes sociais vídeo de um bombeiro ensinando uma receita de repelente caseiro com cravo-da-índia, álcool e óleo corporal para repelir o mosquito da dengue. Não há comprovação científica.

Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:

É falso

Os estudos não comprovam a eficácia dessas substâncias para tratar ou prevenir a infecção pela dengue.

“Iremos ensinar você a fazer um repelente acaseiro, ou seja, para você utilizar nesse período de epidemia de dengue. Ele é muito prático, fácil de fazer e muito eficiente. Ele consiste em utilizar meio litro de álcool, um pacotinho de cravo-da-índia e o óleo corporal que vai servir como fixador para poder realizar esse repelente. […] Primeira coisa, pessoal, nós iremos pegar meio litro álcool, iremos destampá-lo. Iremos pegar o pacotinho de cravo-da-índia. Iremos fazer uma pequena abertura nele e despejar esse cravo-da-índia dentro do meio litro de álcool. […]

Dando continuidade ao processo de fabricação do nosso repelente caseiro, verificamos que o cravo-da-índia ele fica de molho no álcool durante 4 dias e é muito importante que, durante esses quatro dias, pelo menos duas vezes ao dia, você pegue essa mistura e chacoalhe ela. Para que serve isso? Para poder soltar a essência do cravo-da-índia. Após quatro dias, o nosso repelente já está quase pronto […] Verifiquem vocês que a tonalidade do álcool mudou de cor, ou seja, soltou toda a essência e ficou impregnado.

Nós iremos finalizar o nosso repelente […] utilizando uma pequena peneira para poder coar o cravo-da-índia e poder utilizar a substância sem resíduo algum. Após coar totalmente o nosso repelente, nós iremos retorná-lo para a nossa garrafinha. Agora vamos utilizar para isso um funil e despejar dentro da garrafa novamente. Feito isso, agora nós iremos utilizar o nosso óleo corporal que servirá como fixador do repelente sobre a nossa pele. Após adicionarmos o óleo corporal a essência do cravo com o álcool, agora nós iremos transferir ele para um recipiente adequado para que a gente possa estar passando sobre a nossa pele.”

– Trechos de vídeo que circula no WhatsApp

É falso

Não há comprovação científica de que o uso e a fabricação de repelente natural com cravo-da-índia, álcool e óleo corporal tenha eficácia para repelir o mosquito da dengue. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), repelentes e inseticidas precisam ter o aval da agência e seguir as orientações descritas na rotulagem do produto. “Os repelentes de insetos para aplicação na pele são enquadrados na categoria ‘cosméticos’ e devem estar registrados na Anvisa. […] Inseticidas e repelentes devem ter a substância ativa e os componentes complementares (solubilizantes e conservantes) aprovados”, explica.

Segundo a pesquisadora Flávia Virginio, do Instituto Butantã, por não possuírem uma testagem e uma produção padronizada, os repelentes caseiros não possuem comprovação científica. Além disso, podem acabar gerando reações alérgicas na pele. O professor Álvaro Eiras, do Departamento de Parasitologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que fez diversos testes com receitas ‘milagrosas’ encontradas pela internet, mas nenhuma delas teve eficácia. “É muito sério porque as pessoas irão fabricar estes repelentes achando que estão protegidas e aí que está o problema”, alerta.

A Anvisa explica que os produtos que possuem concentração da substância Deet são indicados como potenciais repelentes para os adultos — desde que sejam registrados e aprovados. A agência afirma ainda que todos os ativos repelentes de insetos que já tiveram aprovação para uso em produtos cosméticos podem ser usados em crianças, mas é importante seguir as orientações descritas na rotulagem do produto, pois cada ativo tem suas particularidades e restrições de uso.

Este conteúdo faz parte do projeto Mídia e Democracia, produzido pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI) em parceria com Democracy Reporting International e a Lupa. A iniciativa é financiada pela União Europeia.

Edição: Ítalo Rômany João Pessoa - PB

Este conteúdo foi licenciado pela Lupa, hub de soluções de combate à desinformação, e originalmente postado em seu site em 16/02/2024