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É falso que vacina da dengue altera DNA e causa câncer.

Evelyn Fagundes, Lupa

Circula nas redes sociais um vídeo que mostra o médico Drauzio Varella falando sobre a vacina contra a dengue. A legenda do post afirma que o imunizante seria capaz de alterar o DNA dos vacinados e causaria câncer, além de conter um veneno chamado OGM. É falso.

Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:

“A VACINA DA DENGUE É TRANSGÊNICA, ALTERA O DNA E CAUSA CÂNCER VENENO OGM: ORGANISMO GENETICAMENTE MODIFICADO”

– Trecho da narração do vídeo que circula nas redes sociais

Falso

A vacina contra a dengue não é capaz de alterar o DNA dos imunizados e não tem câncer entre seus efeitos adversos. De fato, faz uso de uma tecnologia que modifica os genes do vírus — e, portanto, contém Organismos Geneticamente Modificados (OGM) em sua composição —, mas isso não significa se tratar de “veneno”.

O imunizante teve a segurança comprovada por órgãos nacionais e internacionais. Além disso, o post desinformativo faz uso de trechos de um vídeo publicado no canal do YouTube de Drauzio Varella em que o médico fala sobre a Qdenga®. No entanto, as afirmações de que o produto causaria câncer e alteraria o DNA não são ditas por ele na gravação original.

A vacina Qdenga® utiliza a tecnologia de DNA recombinante, em que genes de proteínas dos sorotipos 1, 3 e 4 foram utilizados para modificar geneticamente o sorotipo 2 — tornando-o, portanto, um OGM. Dessa forma, com o vírus atenuado e modificado, o objetivo é fornecer proteção para os quatro sorotipos. A modificação genética é realizada no vírus, e não no DNA humano.

Segundo o médico pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, a vacina da dengue não tem capacidade de provocar alterações no DNA e nem é feita para esse fim. Além disso, Kfouri ressalta que a tecnologia que modifica geneticamente o vírus não é uma novidade no campo das vacinas.

“É uma plataforma de vacina há muito tempo utilizada e extremamente segura. Para quem vai receber, não tem nenhum risco de mudar o seu DNA, de envenenar o seu corpo ou de trazer alguma consequência ou algum malefício para sua saúde”, explica o infectologista.

A vacina contra Covid-19 desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Fiocruz, por exemplo, é um outro caso de imunizante que utiliza a modificação genética. O produto utiliza um vírus sem capacidade de se replicar no organismo humano que, após modificações genéticas, passa a carregar as instruções de produção de uma proteína do Sars-CoV-2.

Câncer

Na bula do imunizante, o câncer não é listado entre as reações adversas causadas pela vacina. Segundo a farmacêutica, durante os estudos clínicos, as reações relatadas com maior frequência em participantes entre 4 a 60 anos de idade foram dor no local da injeção (50%), dor de cabeça (35%), dor muscular (31%), vermelhidão no local de injeção (27%), mal-estar (24%), cansaço (20%) e febre (11%).

Ainda segundo a bula, as reações geralmente ocorreram dentro de dois dias após a injeção, foram de gravidade leve a moderada e apresentaram duração de um a três dias. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação concluiu, em fevereiro deste ano, que o imunizante produzido pela Takeda Pharma é seguro, após dois anos de discussões e análises, segundo a pasta. Ainda de acordo com o ministério, os estudos em larga escala, randomizados e controlados por placebo, foram conduzidos em países endêmicos para a dengue e demonstraram a eficácia, segurança e a imunogenicidade da vacina.

A Qdenga® tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde março de 2023.

Edição: Evelyn Fagundes - Rio de Janeiro-RJ

Conteúdo semelhante foi analisado por Aos Fatos e Boatos.org. Este conteúdo foi licenciado pela Lupa, hub de soluções de combate à desinformação, e originalmente postado em seu site em 06/02/2024.