Circula pelas redes sociais um vídeo que supostamente mostra uma dose da vacina contra a dengue atraída por um ímã. A postagem apresenta a ideia de que os imunizantes não são confiáveis e fazem parte de um “experimento mortal”. É falso.
Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
As vacinas contra a dengue não fazem parte de um “experimento mortal”. Os imunizantes são seguros e foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que atestou a segurança e a eficácia de dois imunizantes contra a doença, como informa a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM).
Ambas as vacinas utilizadas no Brasil possuem eficácia global maior do que 80% para casos que exigiriam internação hospitalar. A eficácia mínima recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 50%.
Ao contrário do que diz a publicação, a vacina não é um “experimento”. Em entrevista à Lupa, a professora de Virologia do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Gina Peres afirma que, antes de um imunizante chegar à população, dezenas de testes são realizados.
“A vontade de questionar as vacinas e a capacidade de elas protegerem a população já é bem antiga, mas qualquer vacina que esteja licenciada, que esteja sendo dada no SUS ou vendida nas clínicas de vacinação, precisa ter sido aprovada em muitos e muitos processos e etapas de pesquisas”, diz a virologista.
Em nota à Lupa, a Anvisa reiterou a segurança e a eficácia de todas as vacinas em uso no Brasil e ressaltou que, na publicação em questão, não é possível avaliar se o frasco de imunizante é verdadeiro.
As bulas das duas vacinas contra a dengue disponíveis no Brasil (aqui e aqui), nenhuma delas contém elementos metálicos. Além disso, não há qualquer indício de que o líquido apresentado no vídeo desinformativo seja, de fato, de algum imunizante contra a dengue ou de qualquer outro aprovado no Brasil.
A professora Gina Peres explica que algumas poucas vacinas podem conter doses ínfimas — e seguras — de mercúrio ou alumínio. No caso do alumínio, a substância é utilizada para induzir uma resposta imune mais eficiente. Já o mercúrio pode ser usado em uma substância conservante da vacina, o tiomersal. No entanto, mesmo que sejam substâncias utilizadas na indústria farmacêutica, as quantidades presentes em vacinas são mínimas, como atesta o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.
“A gente não precisa se preocupar com isso, porque, nas vacinas em que eles estão presentes, a quantidade é pequena e os benefícios da vacina são enormes. Todas as doenças para as quais existem vacinas são potencialmente letais. Vale a pena receber, sim, o esquema completo de todas as vacinas para se ver livre dessas doenças”, comenta a virologista da UFF.
Em relação ao efeito magnético apresentado no conteúdo enganoso, Peres ressalta que, mesmo que as substâncias – mercúrio e alumínio – estejam presentes em alguns imunizantes, nenhuma delas geraria o efeito visual de atração magnética. “A quantidade [presente em vacinas] é realmente muito pequena (...) o ímã atrai, em sua maioria, o metal ferro ou níquel. A gente está falando de alumínio e de mercúrio, então, nesses dois casos, não seria possível que aquilo ali fosse um frasco de vacina”, afirma.
A atração magnética de conteúdos metálicos em líquidos pode ser feita, por exemplo, com água. O canal Fun Science (Ciência Divertida, em tradução livre), no YouTube, demonstra como o magnetismo pode ser observado em uma experiência simples, com fragmentos de ferro na água e um ímã do lado externo de um recipiente, técnica que pode ter sido utilizada no vídeo com alegações falsas sobre a vacina.
Edição: João Pedro Capobianco
Este conteúdo foi licenciado pela Lupa, hub de soluções de combate à desinformação, e originalmente postado em seu site em 10/06/2025.